quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Pequeno histórico da Dança Tribal

Esta postagem é produto da revisão do texto da página de Tribal do meu site. Agora é dezembro de 2012, e acebei de voltar de San Francisco, onde pude completar o General Skills e o Teacher Training, cursos de formação do FatChance BellyDance®. Pude também fazer aulas de Tribal Fusion com professoras notáveis, além de respirar um pouco atmosfera artística na qual tiveram lugar tantos eventos importantes na recente trajetória desta fenomenal linha estética de dança.
Tendo vivido isto, e sabendo ser apenas o início da minha trajetória de desenvolvimento no Tribal, resolvi rever meus textos sob uma nova perspectiva.
Além desta, muitas postagens virão com informações teóricas, relatos e reflexões fruto de uma aventura linda, plena de intensas vivências ao lado de irmãs queridas da dança.

Pequeno histórico do Estilo Tribal
ATS® e Tribal Fusion

Bal Anat

Surgidas na década de 60, nos Estados Unidos, as primeiras ideias do que viria a se tornar o Estilo Tribal foram desenhadas pela artista Jamila Salimpour, fundadora da Cia de dança Bal Anat. Jamila criou um espetáculo multi étnico relacionado ao Oriente Médio, com representações de danças populares de povos nômades do norte da África, de países como Argélia, Tunísia e Egito.

San Francisco Classic Dance Troupe
Sendo divulgado nas décadas de 70 e 80, o formato Bal Anat foi imitado por todos os Estados Unidos. Algumas companhias de dança surgiram seguindo a mesma tendência. John Compton fundou o “Hahbi Ru Dance Ensemble” e Masha Archer fundou a “San Francisco Classic Dance Troupe”. Influenciada pelo trabalho de Jamila, Masha dizia simplesmente que seu trabalho era “Dança do Ventre”, admitindo e compreendendo que se apropriava de uma cultura diferente e fazia com ela o melhor que podia para agregar valor e arte às apresentações realizadas pelo grupo. Preocupava-se em elevar o nível da dança a patamares mais altos.


Bal Anat

San Francisco Classic Dance Troupe

Carolena Nericcio


Uma aluna de Masha teve papel definitivo na formação daquilo que veio a se chamar Estilo Tribal: Carolena Nericcio. Fundadora da Cia FatChance BellyDance®, Carolena criou, ao longo dos anos de trabalho, um método único de dança, unindo seu conhecimento anterior da dança do ventre que fazia com Masha a novos estudos no Flamenco e elementos de Dança Clássica Indiana. Construiu um vocabulário gestual próprio para criar uma linguagem dinâmica que pudesse funcionar no palco como um diálogo corporal entre as bailarinas, que pudesse ser espontâneo e que constantemente surpreendesse o público por sua naturalidade, beleza e expressão. A este método damos o nome de “Improvisação Coordenada”, que funciona como um sistema para que nas apresentações em grupo as dançarinas possam improvisar juntas em harmonia de movimentos. Este estilo foi nomeado, pela pesquisadora Moroco, de ATS® (American Tribal Style®), onde o processo de criação está atrelado ao improviso em grupo, mesclando elementos de um mesmo vocabulário e dinâmicas de grupo para resultar em performances vivas e espontâneas. A nomenclatura “Tribal” ganha conotação de tribo, grupo de pessoas unidas para realizar um processo de criação, unidas em um mesmo ideal.

Fat Chance Belly Dance

FCBD 1985

Ultra Gipsy
Assim como a Bal Anat, o estilo FatChance BellyDance® também influenciou inúmeras dançarinas e coreógrafas. Segundo Carolena, a transformação do estilo se originou de um grande telefone sem fio, desde o momento em que professoras de dança saíam de sua sala de aula e decidiam fazer diferente, criando novas trupes com estética baseada em ATS®, porém desenvolvidas a seu próprio modo.
Uma das notáveis teria sido Jill Parker, fundadora do Ultra Gipsy, que inovou decididamente a novíssima cena tribal americana.
Jill Parker misturava técnicas de Tribal com Burlesco, Flamenco e Cabaré. Permitia que as integrantes de seu grupo criassem peças coreográficas, alimentando o estilo com influências diversas.
Muitas famosas bailarinas de Tribal Fusion da atualidade integraram o Ultra Gipsy, entre elas, Rachel Brice, Sharon Kihara e Rose Harden.


Ultra Gipsy


Esta nova tendência desconstrói o sistema ATS®, retomando a possibilidade coreográfica completa e fundindo com novas ideias. A modalidade “Tribal Fusion” retira da postura e do vocabulário ATS® seu princípio e o transforma, acrescentando outras movimentações. Bases ocidentais com inspiração oriental traçam a ponte entre culturas em sinergia com o processo de globalização mundial.
Suhaila Salimpour
Segundo  Jasmine June, em artigo escrito para a revista “Guilded Serpent”, outro nome não pode deixar de ser mencionado quando o assunto são as origens do Tribal Fusion: Suhaila Salimpour. Diz Jasmine: “Ela é filha de Jamila Salimpour, e apesar de não ter sido membro do FatChance BellyDance® ou Ultra Gypsy, ela sofreu as mesmas influências que Carolena Nericcio e é algumas vezes referida como uma dançarina de Tribal Fusion. Sua técnica única e estilo de treinamento influenciou muitas dançarinas do ventre, incluindo aquelas que se classificam como Tribal Fusion.”


Rachel Brice

Poseteriormente, a Cia de dança BellyDance SuperStars projetou o novo estilo para todo o mundo e também seu nome mais relevante: Rachel Brice, fundadora da Cia “The Indigo”, juntamente com outros dois grandes ícones do “Tribal Fusion”: Mardi Love e Zoe Jakes.






O Estilo Tribal, portanto, se forma a partir da possibilidade de fusão de diversas referencias culturais em um mesmo espaço corpóreo, revelando a possibilidade de manifestação da diversidade cultural em uma só linguagem.
Interseções são encontradas para que os estilos dialoguem dentro de uma harmonia estética de movimentação, figurino e música. Dentro deste conceito, um grande “leque de opções” se abre a frente de quem pensa artisticamente este processo. A partir de então o conceito de fusão étnica transpõe as fronteiras do Oriente Médio e passa a incorporar elementos contemporâneos e até mesmo urbanos, nas criações de tribal. Fusão da técnica tribal com elementos de hip hop, street dance e break trouxeram nova roupagem ao estilo.


Fusão Afro
Podemos destacar alguns elementos  para que se estabeleçam temas, como por exemplo: Fusão Afro, Fusão Indiana, Fusão Brasil, Fusão Contemporânea, Fusão Rock, Dark, entre outras temáticas já abordadas por criadores do estilo.
Neste processo de fusão as fronteiras culturais se dissolvem de modo que artista e público podem estabelecer um novo olhar sobre os elementos explorados, valorizando as culturas, aproximando as raças e valorizando o ser humano de forma integral.
O pensamento artístico que produz o Estilo Tribal traz como resultado um processo de inovação estética em dança, figurino e música. Novas concepções de estilo são desenvolvidas em função de valorizar os aspectos estéticos de cada peça coreográfica, definindo a linha de pesquisa de cada grupo musical, de cada coreógrafo, de cada atelier e companhias de dança.

7 comentários:

  1. Nadja, muito bacana o texto. Apesar da gente ouvir algumas versões sobre a história de TUDO, como eu li e ouvi versões semelhantes, um pouco diferente e muito diferente (RSRSRS) é bom ver o que grandes artistas sabem, pois este movimento de saberes também é importante para o fomento de BOAS discussões e valorização desta cultura!

    OBRIGADA PELA CONTRIBUIÇÃO!
    Beijos

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    1. Bom, Juju.. estou aberta ao debate... qualquer pessoa que queira perguntar alguma coisa, estamos aí... só que aí não tem opinião minha, é uma pesquisa meramente histórica. Opinião minha somente no último parágrafo... Acho difícil que alguém tenha uma versão sobre a história do Tribal totalmente diferente desta e que mantenha a consistência... Documentos, relatos, fotos, temos tanto material e é tudo TÃO recente e acessível, que acho difícil alguém inventar um troço diferente e não ser desmascarado em muito pouco tempo... basta procurar um pouquinho na internet. As pessoas estão vivas, meu Deus! É só perguntar...

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  2. Respostas
    1. Inclusive, vejo nesta trajetória meteórica do Tribal Fusion a origem da questão sobre estudar ou não ATS... muita gente, mas MUITA gente mesmo, acabou conhecendo o Fusion antes do ATS, e este já estava de tal forma desconstruído nas coreografias de Fusion que algumas pessoas até hoje se recusam a aceitar que o Tribal Fusion precisa da base do ATS para acontecer. Você pode fazer Fusão, mas sem conhecer o ATS, não faz Tribal. Pode ter certeza...

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    2. Concordo plenamente com a importância, para não dizer necessidade de se ter uma base consistente de ATS para desenvolver qualquer trabalho em Tribal Fusion. É minha percepção como bailarina. Comecei pelo Fusion, mas decidi começar os estudos de ATS com o objetivo de trazer mais consistência e coerência na minha dança. Beijos, belo post!!

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  3. Realmente, ouvir da própria Carolena essa versão dos fatos clarificou muito as coisas para mim. Outro ponto interessante que me veio à mente tempos depois daquela aula que fizemos com a Lady Fred é a característica dos movimentos de tribal fusion e ATS baseado no estudo de Laban. É inegavel que que os movimentos serpenteados e fluidos do fusion, mesmo que estilizados e desconstruídos guardam na sua essência a mesma qualidade e intensão que os movimentos de repertório lento do ATS. A tensão muscular produzida pelo controle e concentração na dissociação dos grupos musculares durante os movimentos é o mesmo, a técnica utilizada em ambos é a mesma. Essa semelhança não é pura coincidência!

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    1. Ah, é mesmo, Aline! Lembro que a gente comentou sobre isto na saída da aula da Fred! Muito bem pensado! Mesma qualidade de movimentos, direções e às vezes, níveis diferenciados... a fusão se dá justamente aí, ao modificar o movimento em função de uma intenção diferenciada...

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